O que é a Convenção CMR?

O termo CMR refere-se à "Convenção Relativa ao Contrato de Transporte Internacional de Mercadorias por Estrada", um acordo internacional assinado em Genebra em 1956, e através do qual se regulam as relações contratuais do transporte terrestre na Europa.

Podemos afirmar que o seu objetivo principal é unificar as condições legais do transporte de mercadorias por estrada entre os países que a ratificaram, e este ponto é importante, porque isto significa que, se enviar mercadorias de um país aderente à CMR (como Portugal) para outro país que também a tenha ratificado (como a maioria dos países europeus), o seu transporte será regido pelas mesmas regras, o que proporciona uma grande segurança jurídica.

A carta de porte CMR: o documento indispensável

A carta de porte CMR é o documento que é emitido para formalizar o contrato de transporte ao abrigo da Convenção CMR. A sua posse não confere a propriedade da mercadoria, mas cumpre três funções essenciais:

Contrato de Transporte

É a prova do acordo entre o remetente (expedidor) e o transportador.

Recibo da Mercadoria

Certifica que o transportador recebeu a mercadoria no local e data de carga.

Documento Probatório

Serve como evidência em caso de litígios legais sobre a entrega, perdas, danos ou atrasos.

Este documento é emitido em três exemplares originais (para o remetente, o transportador e o destinatário), o que garante que todas as partes têm um registo claro dos termos do transporte. Hoje em dia, também existe a versão digital, o e-CMR, que oferece maior eficiência e que é o formato pelo qual a União Europeia aposta, de modo que a partir de 2027 em diante, o formato digital se impõe, até que, no final do período de convergência, o CMR em papel deixe de ter validade.

Conteúdo essencial da carta de porte CMR

Para que seja válida, a carta de porte CMR deve incluir informação detalhada para identificar a carga, o serviço e as partes que contratualmente participam na mesma, ou seja, desde o expedidor, ou destinatário, o transportador contratual e o transportador efetivo, assim como outras figuras, caso existam.

A informação mais relevante que a carta de porte contém é:

Dados das Partes

Nome completo e morada do remetente, do transportador e do destinatário.

Descrição da Mercadoria

Natureza, número de volumes, peso, volume e tipo de embalagem.

Locais e Datas

Local e data de carga e de entrega prevista.

Instruções Especiais

Indicações para alfândegas, instruções de entrega ou qualquer outra formalidade.

Preço e custos

O custo do transporte e outros custos associados.

Mercadorias Perigosas

Menção explícita de se a carga é ADR, com o seu Número ONU, classe e outras especificações.

Responsabilidade do transportador na CMR

A Convenção CMR estabelece um regime de responsabilidade claro para o transportador que realiza o serviço. É responsável pela perda total ou parcial, os danos e os atrasos na entrega da mercadoria, desde a sua receção até à sua entrega como depositário da mercadoria, mas com certos limites.

No entanto, esta responsabilidade está limitada a um valor de 8,33 Direitos Especiais de Saque (DES) por quilograma de peso bruto da mercadoria perdida ou danificada. Esta limitação aplica-se a menos que se demonstre dolo ou culpa grave por parte do transportador, onde se entra a avaliar outros aspectos que podem mesmo resultar em responsabilidade penal, fora do âmbito de cobertura da Convenção CMR.

A convenção também cobre as causas de exoneração de responsabilidade do transportador, como defeitos na embalagem ou manipulação por parte do remetente, indicando de igual forma os prazos e formas de comunicação destes casos para que a referida exoneração possa ser aplicada.

Onde se aplica o CMR?

A Convenção CMR aplica-se a todos os contratos de transporte de mercadorias por estrada em que o local de carga e o local de descarga se encontrem em dois países diferentes, sempre que pelo menos um deles tenha ratificado a convenção.

Atualmente, a maioria dos países da Europa ratificaram a Convenção CMR, assim como outros países da Ásia e do Norte de África (como Marrocos), o que a torna o padrão de facto para o transporte internacional por estrada na região.

Documentação relacionada